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Polícia investiga esquema que teria legalizado venda de 14 mil bois e cavalos sem procedência no RS

Dados de animais eram fraudados no sistema do governo para dissimular venda sem procedência no RS Reprodução/RBS TV A Polícia Civil do RS deflagrou, na manh...

Polícia investiga esquema que teria legalizado venda de 14 mil bois e cavalos sem procedência no RS
Polícia investiga esquema que teria legalizado venda de 14 mil bois e cavalos sem procedência no RS (Foto: Reprodução)

Dados de animais eram fraudados no sistema do governo para dissimular venda sem procedência no RS Reprodução/RBS TV A Polícia Civil do RS deflagrou, na manhã desta terça-feira (9), uma operação para combater um esquema de falsificação de documentos que teria dissimulado a legalização de cerca de 13 mil cabeças de cavalos e 800 de gado sem procedência nos últimos 17 anos. Os animais recebiam registros falsos e eram vendidos a frigoríficos, principalmente no município de São Gabriel. A RBS TV teve acesso, com exclusividade, a dados da investigação. De acordo a Polícia Civil, o golpe consistia em dar uma falsa origem a cavalos e bovinos sem procedência. Muitos podem ter sido obtidos em abigeato, o roubo de animais, avalia a investigação. A Polícia Civil não revelou nomes, mas a reportagem apurou que um servidor da Inspetoria Veterinária de Arroio do Tigre, identificado como Gilson Dutra di Oliveira, teria inserido dados falsos no sistema oficial da Secretaria da Agricultura, para que os animais pudessem ser vendidos a compradores de Santa Maria. Depois, os animais seriam vendidos para frigoríficos. Segundo a Polícia, o esquema teria falsificado inclusive exames negativos de doenças, obrigatórios para garantir a qualidade da carne. Oliveira foi procurado pela reportagem, e afirmou que não se manifestará. Segundo a delegada de Arroio do Tigre, Graciela Chagas, responsável pelo inquérito, os suspeitos chegaram a usar dados de animais já mortos como se estivessem vivos, além de multiplicar rebanhos inexistentes para criar saldo suficiente para emitir guias de transporte. “Ele criava saldo de animais, muitas vezes ressuscitando cavalos que já haviam morrido ou multiplicando rebanhos em propriedades onde nunca houve criação. Assim conseguia justificar o transporte das cargas dentro do estado”, explicou a delegada. As primeiras denúncias surgiram a partir de queixas encaminhadas pelos próprios produtores à Secretaria da Agricultura, em 2023. Na época, Gilson teve a senha bloqueada, mas seguiu agindo com credencial emprestada por um colega, até ser afastado. Conforme o diretor-adjunto do Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal, Francisco Lopes, o órgão abriu processo administrativo e orientou os criadores prejudicados a registrarem ocorrência. “A partir das denúncias, a secretaria instaurou processo interno e encaminhou os produtores para que oficializassem os casos na Polícia Civil”, disse Lopes. Mandados cumpridos Na operação desta terça-feira, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão em diferentes cidades. A reportagem apurou que, em Santa Maria, os policiais estiveram na propriedade do advogado Eloy Irigaray, que, segundo a Polícia Civil, adquiriu parte dos animais com documentação falsa. Em 2024, ele foi candidato a vereador pelo PSD em Santa Maria, fez 775 votos e não conseguiu se eleger. Seu lema na campanha era "com a fé e a verdade, eu não brinco". Em Júlio de Castilhos, buscas também foram realizadas na casa do filho dele, Pablo Irigaray. Eles são suspeitos de adquirir parte dos animais com documentação falsa e revendê-los ao frigorífico Foresta, de São Gabriel. O abatedouro, afirma a polícia, não sabia da suposta fraude. A reportagem tentou obter contraponto do advogado Eloi Irigaray, mas um familiar disse que ele não se manifestaria. A RBS TV não tinha conseguido contato com Pablo Irigaray até a mais recente atualização desta reportagem. Já o frigorífico Foresta disse que vai buscar informações do inquérito, e que depois ficará à disposição para dar uma declaração. Produtores prejudicados Além de cavalos, a fraude teria servido para “esquentar” cerca de 800 cabeças de gado, suspeitas de terem origem em furtos. Um dos prejudicados foi o agricultor Everaldo Vieira, de Viamão, cujo nome apareceu em uma guia de trânsito de animais em setembro de 2023, embora ele nunca tenha feito a transação. “Eu nunca movimentei esse gado. Fiquei surpreso quando soube que meu nome aparecia em uma guia. Nunca participei disso”, afirmou Vieira. Situação semelhante viveu Avelino Pruch de Jesus, morador de Canela. Criador de cavalos para rodeios até dez anos atrás, ele hoje trabalha na construção civil, mas descobriu que seu registro havia sido usado para movimentar oito cavalos a cidades como Arroio do Tigre, que sequer conhece. “Se me derem R$ 20 mil hoje para eu ir até Arroio do Tigre, eu perco. Porque eu nem sei onde fica. E no papel consta que eu transportei oito cavalos para lá”, disse Avelino. Produtores usados como 'laranjas' A Polícia Civil diz que cerca de 150 produtores rurais do estado foram usados como “laranjas” sem saber, tendo seus registros manipulados para emissão de guias de transporte. Algumas éguas, por exemplo, davam à luz filhotes que, em minutos, viravam adultos no sistema, condição necessária para que pudessem ser vendidos ao frigorífico. Em outro caso, considerados os horários do passo a passo das adulterações, era como se equinos levassem apenas 7 minutos para percorrer 500 quilômetros. Até registros de animais dados como mortos eram usados para justificar as movimentações. As investigações apontam ainda que a suspeitas de fraude envolviam a adulteração de exames de doenças, exigidos para atestar a sanidade do rebanho e, por consequência, a qualidade da carne destinada ao consumo. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

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